domingo, março 07, 2010

ÁLVARO MAGALHÃES - TEORIA DA CATÁSTROFE



in JN, edição em papel, 7 Março 2010

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Se houver normalidade, daqui a oito dias temos o campeão encontrado.E eu que gostava de anormalidades, mas parece que este ano isso só acontece no Porto.


Deixo aqui a analise do João Vieira Pinto no OJOGO, que foi uma grande surpresa, uma lufada de ar fresco no comentário desportivo, com uma linguagem simples, acessível, objectiva, fundamentada e demonstrativa de quem percebe muito de futebol. É um prazer ler os comentários dele aos jogos.

1 - Um dia teria de acontecer

PONTO PRÉVIO - Por impedimento pessoal não assisti ao jogo em directo. Apesar de ter visto vários resumos, que me permitem concluir que os erros cometidos por ambas as equipas denunciam pecados antigos, vou focalizar a crónica nas consequências do resultado bem como em algumas das razões que justificam a época do FC Porto.

Depois do empate de ontem, o FC Porto comprometeu até a possibilidade de lutar com êxito pelo segundo lugar, que dá acesso à Liga dos Campeões. Não é fácil explicar o que aconteceu ao FC Porto no espaço de uma semana, principalmente depois de, mais uma vez, ter transmitido a ideia de, à semelhança de épocas anteriores, surgir em grande no último terço da temporada. Mas quando se esperavam respostas positivas nos momentos da grande decisão, desta vez a equipa não conseguiu reagir positivamente e deitou tudo a perder.

Recordar o que tem sido a época do FC Porto desde o início ajuda a perceber o que está a acontecer nesta altura. Nenhuma equipa do mundo consegue passar uma época inteira em superação e este ano o FC Porto nunca se encontrou, a equipa tem passado por momentos muito complicados, conseguiu algumas vitórias demasiado sofridas para aquilo a que está habituada. Curiosamente, mesmo numa época sofrida, houve um momento que parecia possível dar a volta. Num espaço curto de tempo, o FC Porto ganhou ao Arsenal e goleou o Braga, passando a mensagem de que, mais uma vez, tinha as respostas certas no tempo certo. Nos últimos anos tinha sido assim, mas a derrota em Alvalade mostrou que esta época as coisas são diferentes. Um dia teria de acontecer.

2 - É impossível estar sempre a vender e a ganhar

Se pensarmos que todos os anos o FC Porto tem vendido jogadores nucleares e que esta época estava (matematicamente ainda está…) a lutar pelo penta, percebe-se que tem sido feito um trabalho notável, mas este ano não vai dar para o título e pode até deixar a equipa fora da Liga dos Campeões, o que, como é sabido, terá consequências orçamentais e desportivas, pois é na Champions que se mostram os grandes jogadores e se preparam os bons negócios. Mas não é possível continuar a vender todos os anos e ganhar sempre. Mesmo em casa, esta época o FC Porto passou por momentos de grande sofrimento e outros de apatia em que parecia que só era capaz de reagir depois de ser espicaçado. O FC Porto tem sido uma equipa triste e que faz tudo em esforço e nada parece sair com normalidade.

3 - Os outros estão mais fortes

Outro dado a reter: antes do jogo com o Braga era terceiro e tinha apenas menos dois pontos do que em igual jornada da época passada. Isso quer dizer que o rendimento do FC Porto não era muito diferente do de anos anteriores, que costumava dar para consumo interno, só que a concorrência está muito mais forte. As boas temporadas de Benfica e Braga colocaram no FC Porto uma pressão a que os seus jogadores não estão habituados e com a qual tiveram dificuldade em lidar. Daí ter falhado nos momentos em que não podia fazê-lo. O empate com o Leixões no Estádio do Mar tinha sido um aviso sério e apesar da confiança renascida após o jogo com o Braga, Alvalade pôs a nu os problemas existentes.

4 - Não sei o que se pode esperar do jogo com o Arsenal

Depois da derrota com o Sporting, pensei que o FC Porto iria ter uma atitude diferente frente ao Olhanense, mas não é preciso ter visto o jogo na íntegra para perceber o que se passou com uma equipa que, a precisar de reagir, aos 16 minutos já estava a perder em casa por 2-0. Os resumos mostram erros flagrantes e faltas de concentração que não são normais.

Depois destes dois últimos jogos, não sei o que poderá esperar do jogo de terça-feira, da Liga dos Campeões, frente a um adversário muito forte. O Arsenal tem uma grande equipa, grande qualidade individual e colectiva e vale mais do que aquilo que mostrou no Dragão, porque bloqueou após o segundo golo portista.
O FC Porto precisa de se concentrar muito neste confronto e de ser capaz de se transcender, porque se não conseguir dar um safanão à equipa, não me parece que se possam fazer vaticínios optimistas.

5 - Méritos e pecados do Olhanense

Um capítulo final para o Olhanense, uma equipa com jogadores irreverentes, um treinador que incute ideias atrevidas e aceita jogar de igual para igual em qualquer campo. Fez no Dragão o que havia feito em Alvalade, chegando ao 0-2, mas depois repetiu os erros. A ganhar por 2-0 a 10 minutos do fim e não segurar a vantagem é uma mistura de falta de sorte, com ingenuidade e falta de concentração. Não é de agora que tem carências defensivas e a classificação ressente-se disso.

in Ojogo