sexta-feira, novembro 09, 2007

A honra do convento





Por Rui Moreira

HÁ anos que não tínhamos uma época com tantos casos envolvendo a arbitragem. Desde o desempenho de Bruno Paixão no jogo da Supertaça, que abriu a época oficial, têm-se sucedido, jornada a jornada, erros grosseiros que adulteram os resultados. Esse facto indesmentível tem servido, como é tradição, para ocultar outros problemas.

Em Alvalade, esqueceram-se os benefícios já colhidos (que até valeram o primeiro troféu da época) e ensaiou-se a choradeira, valorizando alguns episódios polémicos para assim mascarar a crise. É mais fácil do que reconhecer que os fracos resultados se devem ao depauperamento do plantel. O que vale aos leões é que a pouca inspiração do treinador e o desengano com alguns inflacionados produtos das suas camadas jovens vão sendo tranquilizados pelas exuberantes prestações de Liedson, um dos poucos artistas que restam no nosso triste futebol.

Como sofrem do mesmo mal, porque a saída de Simão não foi suprida, as águias tentam recorrer ao mesmo estratagema, reeditando o célebre coro da Segunda Circular. Prova disso é a última crónica do meu amigo Sílvio Cervan, em que se lia que para além do mérito e de alguma sorte, o FC Porto tem beneficiado, também, da mãozinha. Naturalmente, o FC Porto já beneficiou de erros da arbitragem, como aconteceu com o golo ilegal na última jornada em que por acaso também foi prejudicado por não ter sido assinalado um penalty a seu favor. Ainda assim, essas peripécias não são comparáveis com o invulgar conjunto de oferendas que o Benfica tem recebido nos últimos jogos. O que tem acontecido, meu caro Sílvio, é que nem sempre as aproveitam tão bem como em Paços de Ferreira. Na Taça da Liga, por exemplo, depois de terem sido apurados no jogo da Reboleira graças à arbitragem, não foram capazes de aproveitar os favores que lhes foram concedidos no Bonfim...

Entretanto, a jornada europeia ditou sortes diferentes. Diz-se que o Benfica podia ter ganho mas perdeu em Glasgow, que o Sporting só não ganhou à Roma porque teve azar e que o FC Porto nem mereceu a vitória, porque até jogou mal. O que vale é que estas questiúnculas domésticas não sobrevivem ao escrutínio europeu, onde são ofuscadas pelas imagens do maravilhoso golo de Sektioui e pela inigualável arte de Quaresma. Deve ser culpa do sistema mas pelo andar da carruagem quer-me parecer que lá para Fevereiro será mais uma vez o FC Porto a defender sozinho, na alta-roda do futebol europeu, a honra deste nosso invejoso convento.