quarta-feira, abril 25, 2007

25 de Abril




António Tavares Teles no OJOGO:


1. Só se queixam do 25 de Abril três tipos de fulanos: os anti-democratas, aqueles que não se lembram (ou não querem lembrar-se, ou do antecedente tiravam benefícios) do que era Portugal no tempo de Salazar; ou então aqueles que, jamais se pondo em questão, gostam de pôr em questão tudo e todos. Muitas vezes, até a liberdade com que em questão põem a própria liberdade.

2. O 25 de Abril é uma data. Que assinalou o fim de um tempo e abriu outro. Um tempo não de página em branco – é certo – porque marcado por tudo quanto, desde há séculos, mais concretamente, desde há cinquenta anos vinha de trás, mas um tempo apesar disso aberto, repito, no qual os portugueses foram “convidados” a “inscrever” o que fossem capazes de criar, de conceber, inclusive de imaginar.

3. Portanto, o 25 de Abril enquanto tal – enquanto data – apenas existe para fixar na História aquilo que (por múltiplas razões, e algumas bem simples, de resto) os militares levaram a cabo nesse dia, e para significar essa possibilidade para os portugueses de irem edificando, sem medo, com alguma esperança e a competência possível, o seu futuro. Pelo que, se alguma coisa falhou, não foi a data (para mais com todas as potencialidades que encerrava, e encerra), mas quem não soube estar à altura dela: quero dizer, nós.

4. Aliás, nem poderíamos em boa verdade estar. Porquê? Bom (para abreviar) leiam o Vasco Pulido Valente e, quem ainda não o percebeu, perceberá: vivemos séculos de uma história triste e chegámos aos anos-60/70 pobres, analfabetos (e acreditando que íamos continuar a permanecer pobres e analfabetos por mais um século ou dois), incultos, católicos graças a Deus, e emigrantes à força da miséria que por cá se fazia (e de que maneira) sentir.

5. É claro que, com o dinheiro que da emigração nos vinha, e com a tal abertura que o 25 de Abril trouxe, e depois o dinheiro da Europa, a “paysannerie” restante, convertida ao subúrbio lisboeta, quis ser burguesa. E, como não há coisa mais feia, deprimente, quase obscena do que este tipo de mutação e as suas consequências, quer mentais, quer sociais, quer culturais, quer estéticas, foi o que se viu.

6. Mas (na minha opinião) o grande problema nem é esse (porque tal mutação era inelutável). O grande problema é a arrogância, entre o queixinhas e o corporativo-reivindicativo, que por aí se instalou.

Há dias, li que uma fulana qualquer disse que, “para por isto na ordem um Salazar não bastava, eram precisos seis”. Em comentário, respondi-lhe: não, uma PIDE era suficiente. Porque às vezes, mete efectivamente nojo observar, a “mandar vir”, um pessoal que, no tempo (eu sei que era outro tempo) de Salazar andava de chapéu na mão e com o rabo entre as pernas, a benzer-se e a dizer “a bem da Nação”. Só que parece que está na moda, “mandar vir”. Até contra o 25 de Abril, que veio permitir a essa gente “mandar vir” à vontade. E reclamar “menos Estado” de punho erguido, com a outra mão sempre entendida, a pedir batatinhas ao mesmo Estado...

Ó pobre 25 de Abril, que não tens culpa nenhuma de nada disso e tanto levas com a culpa de quase todos em cima de ti!


Navegando por aí, encontrei um texto de 2004 que se adequada ao dia, escrito por um Paulo Pinheiro:

O Futebol Clube do Porto - 25 de Abril antes e depois.

A história clubística portuguesa divide-se em dois períodos:

1º Até ao 25 de Abril de 1974, onde o Salazar amigo separava Lisboa do resto do país, concedendo aos clubes da capital do império: SCP e sobretudo, SLB - o clube da águia imperial fascista (e nazi!), todas as condições materiais e humanas com o sacrifício e prejuízo dos restantes clubes, especialmente o FCP, que era o único que, com muito menos meios, fazia alguma frente aos senhores de barriga cheia, favorecidos pelas benesses do Ditador.

Por isso dizia o Pedroto que um título do FCP valia por dois ou mais do que o de um clube de Lisboa, uma vez que não era uma competição em igualdade de circunstâncias – sabia que, entre outras regalias, os árbitros da FPF eram todos da região de Lisboa?...quando não chegassem os jogadores, lá estavam eles para garantir os "serviços mínimos" para as "suas cores", e nem era preciso pagar-lhes viagens ao Brasil, pois corriam o risco de perderem os seus empregos , uma vez que eram funcionários públicos!...

Deste modo as "mãos-cheias" de títulos desse período dos clubes da capital, mais concedidos pelo "Sistema Político Fascista e Centralista-Salazarista", do que verdadeiramente conquistados por mérito ou real capacidade dos clubes de Lisboa, tem pouco mais que mero valor estatístico.

2º Período - Pós 25 de Abril, acabou e o Regime Salazarista acabou-se a mama, cada um por si e foi o que se viu!: Não são precisos 100 anos para o FCP chegar aos calcanhares de um clube de freguesia (Benfica) SLB. FCPorto não deriva de nome de bairro mas de cidade que, por seu lado deu nome ao País que tu, imerecidamente habitas. FCPorto é um clube conhecido, admirado e temido nos de norte a sul do País e nos 4 cantos do Mundo, com adeptos em todos os continentes - só é reconhecido lá fora quem ganha ó pobre de espírito, não quem nem sequer aparece, ou quando aparece se cobre de ridículo nas competições europeias (SCP /SLB), com prestações miseráveis.

Seguem-se os dados estatísticos da história futebolística neste período:

1974-2004: 30 anos de competição - FCP- 15 títulos de Campeão Nacional (tantos como todos os outros juntos!), 8 Taças de Portugal (em casa do adversário), 12 Supertaças de Portugal, 2 Taças dos Campeões Europeus (a doer, e não com 7 joguitos, como as do SLB), uma Taça UEFA, 1 Supertaça Europeia, uma Taça Intercontinental (Campeão do Mundo de Clubes). Estes 40 títulos fazendo FCP o clube mais titulado a nível internacional com 5 taças. E mesmo a nível interno é o que mais ganhou nos últimos TRINTA E CINCO ANOS, não são 5 nem 10.

Como poderá o currículo desportivo dos clubes de Lisboa é que nunca se comparou (por junto)ao do FCP e daqui a 100 anos, com adeptos tansos e incompetentes (que felizmente para o FCP são a maioria), já só terão ganho taças da amizade, campeonatos da 2ª circular, de futsalinha, bisca lambida, e cabeçadas uns nos outros...se o nº de adeptos servisse para alguma coisa os chineses, para além de terem inventado o futebol eram sempre campeões....”

Cumprimentos

Paulo Pinheiro

P.S: Há a acrescentar a estes dados: 1 Taça Intercontinental , 1 Campeonato Nacional, 1 Taça de Portugal e 2 Supertaças.