quinta-feira, abril 20, 2006

Somos muito permissivos com Scolari

João Cepeda em Londres no JN:

Seleccionador devia ser chamado à responsabilidade desde o primeiro momento.

A semana passada conhecemos uma notícia através dos jornais ingleses que devia ter deixado o futebol português em estado de choque, mas curiosamente passou tão despercebida como a Primavera. Luiz Felipe Scolari teria aproveitado uma viagem a Londres para ter uma entrevista de trabalho com os chefes da federação britânica e negociar o lugar de seleccionador inglês. O próprio Scolari acabou por negar os factos, mas na verdade não precisava de se dar ao trabalho, porque ninguém em Portugal se preocupou. Esta nossa indiferença é grave e não aconteceria em qualquer outro país. Em primeiro lugar, porque o seleccionador devia ter sido chamado à responsabilidade desde o primeiro momento. Independentemente da dita reunião ter acontecido ou não, todo este caso só existe porque o brasileiro foi fazendo declarações que serviram para alimentar a especulação em torno do seu nome. E mesmo no que diz respeito à entrevista, não se percebe porque não a negou imediatamente. Ora, faltam apenas 12 semanas para o Mundial começar e a hipótese de Portugal ser adversário da Inglaterra é mais que possível, já que ambas as equipas aspiram a chegar às eliminatórias finais. Se isso acontecer e esta especulação ainda pairar, a nuvem sobre Scolari será negra e feia. Neste tipo de polémicas, devemos sempre tentar-nos pôr nos sapatos dos protagonistas e perceber se é legítimo que um profissional aspire a defender o seu futuro e o seu currículo. Emregra, entendo que sim. Até acho que se estivesse no lugar de Scolari tentaria fazer o mesmo. Mas o que realmente perturba em todo este caso não é a atitude do Felipão, que não é nada parvo, mas que ele possa fazer tudo isto nas nossas barbas sem que nós, os samaritanos que por acaso lhe pagamos o ordenado, digamos uma palavra de protesto. Eriksson já foi apanhado nestas situações e a Inglaterra tremeu com o escândalo. Toda a gente o criticou na praça pública, até que a federação foi forçada a intervir. Primeiro dando-lhe um aviso, depois dando-lhe um chuto. Essa é a grande diferença. Nós nem chutos, nem avisos. Só palmadinhas nas costas.