sábado, outubro 01, 2005

Nem tentem...

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"Se não gostam, vou embora"

PERGUNTA - Que aspectos precisa a equipa de melhorar?
CO ADRIAANSE
- Precisamos de experiência e só a podemos ter ficando mais velhos e com mais jogos. É uma questão de tempo. Temos de melhorar a forma como defendemos nas bolas paradas. Os jornalistas em Portugal dizem que a defesa é má, mas se analisarem os golos, por exemplo o segundo, nasce de um canto a favor do FC Porto. Nesse caso, a organização da equipa não foi a melhor, mas não tem nada a ver com o carácter defensivo ou ofensivo do sistema. Bolas paradas são outra coisa. O terceiro golo também não foi por causa do nosso estilo atacante. Surgiu de um livre numa das faixas em que o Ibson voltou a errar ao fazer uma falta desnecessária porque o Bosingwa estava a seu lado e eram dois contra um. Tínhamos sete jogadores atrás da linha da bola, mais o Baía, contra quatro avançados do Artmedia e eles marcaram... Isso não tem nada a ver com o sistema. É organização. Penso que não há nenhum clube do Mundo melhor organizado nas bolas paradas do que o FC Porto. Estudámos no computar, discutimos e, se forem ao nosso balneário, vêem nas paredes quem marca os penalties, os livres nas faixas ou no centro, os cantos, quem defende e quem ataca... Os jogadores sabem o que fazer e nós, como treinadores, não podemos fazer melhor nesse aspecto. Mas é preciso que os jogadores estejam concentrados e cientes do perigo do adversário. O oponente directo do Ricardo Costa marcou o terceiro golo. Ele estava a marcá-lo, mas deixou-o ir meio metro e foi golo. Não foi uma questão de desorganização, mas de falta de concentração e experiência. A responsabilidade é minha, mas se olharem para a equipa só três jogadores pensam em defender: o Vítor Baía, o Ricardo Costa e o Bruno Alves. O César Peixoto era um extremo e agora está a jogar mais recuado e o Bosingwa também pensa mais no ataque do que na defesa, assim como o Ibson e o Lucho.

P- Mas pode facilmente mudar isso...
R- Sim, mas, em Portugal, toda a gente diz que o FC Porto joga bem no ataque, cria perigo e dá espectáculo. O Diego teve oportunidade para fazer o 3-0. Estava sozinho a poucos metros da baliza, podia ter parado e ver para onde rematava e terminar aí o jogo. Preciso de ensinar os meus jogadores a pensar mais em defender, em determinados momentos. Isso, repito, é uma questão de tempo e de experiência. Se mudar a equipa, também mudo o estilo, a minha filosofia e mudo-me a mim próprio. E não o vou fazer. Tenho 58 anos, muita experiência como treinador e já tive muito sucesso em diferentes clubes com esta filosofia. Penso que é uma excelente filosofia para o futebol. Mas temos de melhorar nas bolas paradas. É uma questão de treino e mais treino. E, claro, de atitude dos jogadores. Se um jogador, pode ser de ténis ou de golfe, quiser melhorar os seus passes e remates, ganha mais facilmente. Rematámos 44 vezes na Liga dos Campeões e somos também a equipa com mais cantos e não ganhámos nenhum jogo. Então, temos de melhorar os nossos remates, as bolas paradas e a concentração. Após o 2-0, devíamos ter fechado o jogo e esperar pelo intervalo, mas isso não aconteceu porque, como já expliquei, houve cinco falhas individuais que originaram o golo do Artmedia. Essa é a verdade e é isso que devemos melhorar e não jogar mais à defesa como todas as outras equipas.

P- A equipa tem de melhorar com o tempo. E os adeptos têm de esperar?
R- Claro e se não quiserem ou puderem esperar têm de tirar os lenços brancos dos bolsos e acenar e aí vou para casa e vem um treinador novo. São os adeptos que decidem: se não gostam de mim, vou embora. O FC Porto trouxe-me porque tenho 58 anos e uma filosofia e um sistema próprios. Se os adeptos não gostam, tudo bem, é porque a direcção cometeu um erro e escolheu mal o treinador. Há tantos treinadores que optam por um estilo defensivo e cauteloso em 4x5x1... Até vocês podem fazer isso, porque é a forma mais fácil de treinar. Para mim, esta é mais difícil, mas penso que é boa para futebol e acredito que posso ter sucesso. Mas para isso preciso do apoio da Imprensa, ou não... Podem achar que sou estúpido por não defender. É a vossa opinião, mas devem pensar no que é melhor para o futebol em Portugal. Vocês são fazedores de opiniões e decidem se eles devem ou não colocar os lenços de fora. Vocês escrevem e eles lêem. Têm muita influência, talvez mais do que eu, que estou sozinho. Todos os dias chegam aos adeptos e aos jogadores. Eles compram O JOGO e "A Bola" e acreditam no que lêem.

P- Sente-se sozinho em Portugal?
R- Não, porque tenho excelentes adjuntos e o apoio do Antero Henrique e do presidente. Eles acreditam em mim e devem fazê-lo, porque me escolheram.

"Este não é o grande Porto de Mourinho"

P- No final do encontro com o Artmedia disse que não conseguia explicar muito bem a derrota. E agora?
R- O futebol é simples e as coisas simples podem ser explicadas. Jogámos muito bem durante 90 minutos. Na primeira parte dominámos e não demos qualquer hipótese ao adversário, mas um minuto antes do intervalo cometemos cinco erros seguidos. O primeiro foi do Ibson que tentou driblar e perdeu a bola no meio-campo quando poderia ter jogado facilmente para o lado ou para trás; o segundo foi a posição do César Peixoto que não estava no lado esquerdo da defesa, mas no meio-campo; o terceiro erro foi do Quaresma que quis fazer um passe habilidoso e perdeu a bola quando podia ter passado ao McCarthy que estava ao lado dele; o quarto foi do Jorginho. O homem que marcou o golo estava a correr à sua frente e o Jorginho mesmo sendo mais rápido do que ele deixou-o ir, não correu nem fez uma pequena falta; o quinto é do Ricardo Costa que fez um carrinho quando devia ter esperado pela bola. Tenho uma equipa muito jovem e inexperiente. As pessoas na Europa pensam que este é o grande Porto do Mourinho, mas ele já não está cá, está no Chelsea. Os jogadores também não são os mesmo. Só o Jorge Costa, que está sempre lesionado, e o Vítor Baía. Os outros são todos novos.

P- Ficou surpreendido com os resultados europeus?
R- Foi uma semana negra para Portugal e para a Holanda. O PSV, o Ajax, o Benfica, o FC Porto, o Sporting e o Setúbal perderam. O Braga empatou mas foi eliminado, assim como o Feyenoord e o Willem II. Foi mesmo uma semana negra.

"Pedro Emanuel está indisponível"

P- Como está o Pedro Emanuel?
R- Está a treinar com uma máscara de protecção na cara, mas os médicos proibiram a sua utilização. Disputar bolas com adversários pode ser muito perigoso para ele. Ainda não está disponível.

P- E os restantes lesionados?
R- O Jorge Costa e o Helton estão a treinar com o António Dias para recuperar.

P- Quando é que o Bruno Moraes poderá jogar?
R- Esta semana juntou-se ao grupo, mas ainda é cedo porque está parado há cinco meses. Precisa de tempo. Ainda assim, voltou um mês antes do esperado, o que é excelente para ele. E marcou o primeiro golo no treino, esta manhã...

"Ainda não abordámos o jogo com o Marítimo"

P- Até que ponto a derrota com o Artmedia poderá afectar a equipa no jogo com o Marítimo?
R- Não é possível determinar. Penso que só o saberemos no final do jogo. É outra competição, mas deve ter alguma influência. Podemos dizer que é passado, e falar é fácil, mas no pensamento há sempre qualquer coisa. Temos de esperar.

P- Mas como está o espírito do grupo?
R- É inegável que a derrota com o Artmedia tem peso no espírito dos jogadores. Queríamos ganhar e perdemos. Por isso, não houve alegria no treino.

P- Vai mudar alguma coisa na equipa?
R- Não posso dizer. Sei, mas não vou dizer.

P- O que conhece do Marítimo?
R- De momento nada. Vou receber informações esta tarde [n.d.r. a conferência de Imprensa foi realizada no final da manhã]. Ontem, foi dia de folga e tivemos de pensar no rescaldo do jogo com o Artmedia. Esta manhã [ontem] voltámos a falar sobre o jogo europeu e ainda não abordámos o Marítimo. Amanhã [hoje] vamos fazê-lo.

in Ojogo