quinta-feira, maio 19, 2005

Festival

Pertenço àquela geração de portugueses que se sentava em frente da televisão, com uma devoção quase religiosa e num silêncio sepulcral - imposto de forma marcial pela minha mãe - para assistir ao Festival da Canção com uma fé inexplicável num triunfo que nunca aconteceu. Uma fé que se esfumava com a primeira série de votos. Lutávamos invariavelmente com a Grécia pelo oitavo lugar, dávamos pontos à Espanha que raramente nos eram devolvidos e acabávamos quase sempre com o discurso daquela senhora da "Canção de Lisboa" que, perante o triunfo da desafinadíssima Beatriz Costa no concurso das costureiras, gritava: "Vamos embora que isto é tudo uma grande aldrabice!". Cresci, como a maior parte da minha geração, conformado com os oitavos lugares, com as eliminações na fase de apuramento, com as derrotas no último ou no primeiro minuto, mas sempre confortado com a ideia de que "isto é tudo uma grande aldrabice".

Os últimos anos mostraram que não é bem assim. O FC Porto provou, nas últimas duas temporadas, que não há limites para a ambição das equipas portuguesas, não há vitórias impossíveis, nem adversários imbatíveis. E mostrou que o futebol português é mais do que lama onde o querem mergulhar e que pode dispensar as desculpas esfarrapadas do tipo "isto é tudo uma grande aldrabice". E se havia dúvidas, porque tudo o que o FC Porto faz deixa dúvidas nas mentes de alguns cépticos, a Selecção provou-o no Europeu e o Sporting voltou a prová-lo agora. Sinto-me vingado. Sempre achei que a Manuela Bravo e o "Sobe, sobe, balão sobe" merecia pelo menos um terceiro lugar...

Jorge Maia no Ojogo
.....................................................................................................................................................................
P.S: Por motivos profissionais, não vi o jogo do Sporting (coloquei a gravar), mas o resultado diz tudo...uma grande frustação para todos os sportinguistas. Chegar a uma Final Europeia já é um feito histórico, mas o FCPORTO habituou mal este povo, também ganhava-as. Fica para a próxima...