sábado, fevereiro 12, 2005

Concluindo

1. Acredito que, neste ponto da história, depois de lavrados em acta tantos flagrantes, quem louva o critério da Comissão Disciplinar da Liga na instauração e juízo dos processos sumaríssimos só pode ser desonesto, mais desonesto ainda se o fizer em nome do Sporting e do Benfica, porque isso implica fechar os olhos às agressões protagonizadas por elementos dessas equipas poucas semanas antes das que valeram castigos ao FC Porto. Não foram inventadas agora, à pressa, para atenuar os crimes do campeão europeu: existiram e hão-de existir novamente, porque, de uma forma ou de outra, o oportunismo cospe sempre contra o vento.

2. Negar que a Comissão Disciplinar guarda para o FC Porto todas as inovações e estreias de novas figuras jurídicas, todas elas em grave prejuízo do réu, é a prova absoluta de que os portuenses não podem esperar da maioria da Comunicação Social um tratamento isento e justo. Já não estamos a falar de clubismo, falamos de algo mais básico e menos banal.

3. Não obstante, é evidente que, nesta sequência de cotoveladas, alguns jogadores do FC Porto deram sinais de pouca inteligência ou, no mínimo, de falta de auto-controlo, o que significa que a equipa mais experiente e rodada do campeonato falhou com estrondo a contenção desses lances. É outra ilação importante.

4. Se as súbitas e exageradas preocupações com as inadmissíveis, selváticas e demoníacas cotoveladas fossem genuínas, denunciariam a mesma visão beata e moralista de sempre, típica de quem não sabe o que é um desporto colectivo e procura endireitar o que não está torto; como não são genuínas - são oportunistas - mostram apenas que aquele futebol desejado por todos, objecto de tantas cimeiras, depende do que der jeito na altura. Resolvido o problema das cotoveladas, eleitas imagem de marca dos dragões, continuo à espera de que, nessas cruzadas pela purificação do futebol, apareçam indignações contra as imagens de marca de outras equipas, mas até sou capaz de fazer uma aposta: quando, à custa de um regulamento recém-desenterrado no Cairo, algum jogador da SuperLiga for acusado de desvirtuar a verdade desportiva por simular faltas há-de vestir de azul e branco.


POR FALAR EM OPORTUNISMO

"Fico com a sensação de que só jogando no campeonato espanhol ou inglês é que é possível alcançar um prémio deste género. Benni quer ser considerado o melhor jogador africano, mas, para que tal aconteça, provavelmente terá de regressar a Espanha ou ir para Inglaterra"


Rob Moore, empresário de McCarthy


E POR FALAR EM MANIA DA PERSEGUIÇÃO

"A punição é ridícula, sabendo-se que acontecem lances muito parecidos em muitos jogos e nunca acabam por receber o mesmo tratamento. Ele não teve o comportamento correcto, sabe que é culpado, mas sou levado a pensar que se trata de uma acção concertada para o retirar do futebol português."


idem

José Manuel Ribeiro no Ojogo