sexta-feira, fevereiro 11, 2005

APITO ENCARNADO



Pinto da Costa

"O que sabe de futebol a Comissão Disciplinar?"

O presidente do FC Porto não poupa críticas a Cunha Leal, director-executivo da Liga, à Comissão Disciplinar e ao branqueamento que entende estar a ser feito aos erros que têm prejudicado os dragões e beneficiado os adversários. Um romance para o qual sugere o título "Apito Encarnado"

RUI GOMES

Pinto da Costa não encontra um adjectivo para classificar o processo sumaríssimo aplicado a Seitaridis, uma decisão da Comissão Disciplinar da Liga conhecida poucas horas depois de o presidente do FC Porto ter considerado "uma anormalidade" o aumento das penas a McCarthy e Pedro Emanuel. Porém, palavras não lhe faltaram para criticar fortemente a Comissão Disciplinar e director-executivo da Liga e ainda para lembrar as "benesses" de que foram alvo Rochemback e Petit e para sugerir que estes casos venham a ser tema de um romance, cujo título sugere que seja "Apito Encarnado".

O JOGO Ontem [anteontem] considerou uma anormalidade o aumento das penas a McCarthy e a Pedro Emanuel, após o FC Porto ter pedido o prosseguimento do processo sumaríssimo de que foram alvo. Como classifica agora o sumaríssimo a Seitaridis?

PINTO DA COSTA Não classifico. Acho que já nada me causará estranheza. Nada do que possam querer fazer ao FC Porto me surpreenderá. Prefiro nem tecer qualquer consideração sobre o castigo a Seitaridis e deixar essas questões para o nosso gabinete jurídico. Mas gostava, apenas, de referir que seis analistas, cinco deles ex-árbitros, consideraram que o árbitro tomou a decisão correcta ao nem sequer marcar falta. Por isso, pergunto: que conhecimentos têm os elementos da Comissão Disciplinar de futebol? Onde jogaram futebol? Uma coisa é saber interpretar as leis, coisa que têm feito bem umas vezes e outras menos bem, já que algumas das suas decisões têm sido revogadas, outra é ter conhecimentos de futebol.

P Durante as considerações que teceu em relação a McCarthy e Pedro Emanuel, falou repetidamente em coincidências. Mantém a tese das coincidências ou acha que existe uma diferença de tratamento entre o FC Porto e outros clubes?

PC Naturalmente que acho. Quando ouço o director-executivo da Liga, senhor Cunha Leal, dizer que não existe qualquer diferença de tratamento entre os clubes e que todos são tratados de igual forma, aquilo que eu posso fazer é mandar-lhe uma cassete com as agressões do Rochemback no Sporting-Boavista e no Sporting-Benfica e do Petit na Madeira e no jogo Benfica-Boavista. Depois, gostaria de o ouvir explicar como é que há tratamento igual para todos. Talvez tenha afirmado isso porque é director-executivo e presidente interino em part-time. Se fosse em full-time, teria de trabalhar desde a manhã de segunda-feira até às 19 horas de sexta-feira, o que não acontece. Talvez por isso tenha alguma desculpa. Mas devia arranjar alguém na Liga, que trabalhe em full-time, para o elucidar destas questões. Dessa forma evitaria fazer afirmações que não são correctas.

P O FC Porto volta a estar em rota de colisão com a Liga de Clubes. Mantém a filosofia de que ter pessoas ligadas ao FC Porto naquele organismo não é importante?

PC Quero deixar bem claro que não vamos alterar a nossa filosofia nessa matéria. Continuaremos a tentar contratar os melhores jogadores e a tentar formar as equipas mais capazes, única forma que conhecemos de vencer competições como a Taça UEFA, a Liga dos Campeões ou a Taça Intercontinental. Eu sei que é uma filosofia que contrasta com as ideias daqueles que defendem que isto não é importante, que o importante é ganhar lugares na Liga. Sabemos que é difícil manter a nossa posição perante as situações anormais que temos vindo a assistir, mas será isso que continuaremos a fazer.


"Um romance intitulado Apito Encarnado"

P Falou nas competições internacionais, mas não referiu a SuperLiga. Porquê?

PC Recordo a forma como a dupla Paulo Pereira-Karadas venceu o Estoril e como o senhor Nuno Almeida conseguiu validar um golo falso como Judas para que o Benfica conseguisse empatar com o Rio Ave. Por isso, tenho alguma dificuldade em falar na SuperLiga. Mas espero que estas situações, por mais branqueadas que possam vir a ser, venham um dia a figurar num romance a que ficaria bem o título "Apito Encarnado". Existe um branqueamento por parte de alguma comunicação social dos erros, involuntários naturalmente, que beneficiam os nossos adversários, bem como daqueles que nos prejudicam.

P Pode concretizar essa acusação?

PC Chega a ser ridículo que um pseudo-expert como crítico de arbitragem considere brilhante a arbitragem de João Ferreira, no Estoril, embora diga que foi pena não ter visto que a bola cortada pelo braço de Costinha lhe foi enviada pela mão de um jogador do Estoril. Mas quanto mais esses especialistas, em que incluo também os da televisão e de outros quadrantes, disserem estas coisas, mais unidos e mais fortes estaremos no redobrar do entusiasmo com que jogaremos. Estou convicto de que, no domingo, a equipa, os adeptos e, em particular, as nossas claques vão abalizar a nossa filosofia de que o importante é ter bons jogadores.