quarta-feira, dezembro 15, 2004

ENTRE O CARMO E A TRINDADE



No comboio do Mundo

É que o único poder (de todos os poderes em Portugal) que está sediado no Porto é o futebol. Foram rostos desse poder, Pinto da Costa e Valentim Loureiro...

Um amigo meu contou-me que saiu ontem de casa para comprar todos os jornais desportivos que estivessem na banca, os de domingo (dia do jogo) e os de segunda-feira (rescaldo do jogo) para ficarem como recordação daquele que foi mais um momento histórico para o FC Porto e, julgava ele, como eu , para o futebol português.

Ao aproximar-se da tabacaria onde ia comprar os jornais, revoltou-se e desistiu.
Afinal, em alguns dos jornais o grande acontecimento de domingo não era o jogo no Japão, mas sim um golo mal anulado ao Sporting, e na segunda-feira, o grande acontecimento não era uma Taça Intercontinental ganha pelo FC Porto mas sim o descalabro do Benfica no Restelo.

Ou seja, aqueles que andam sempre a falar da regeneração do futebol português,que dão voz aos que só sabem falar do sistema, que enaltecem todos os dias a qualidade e a forma de estar nos outros campeonatos europeus, comparando sempre ao nosso, são rigorosamente os mesmos que na hora dos grandes feitos das nossas equipas preferem destacar para manchetes os erros dos árbitros ou os inêxitos do Benfica.

Na verdade, a conquista de um título conseguido pelo FC Porto não é importante para o futebol português mas apenas para os Dragões. A verdade é que o FC Porto já está muito longe da mesquinhez que grassa em todos os agentes do nosso futebol e lá vai ganhando títulos e conquistando o mundo.

Ver os dirigentes do Sporting dizerem que o erro do trio de arbitragem não é casual, uma semana depois de terem ganho em Coimbra e depois do árbitro ter poupado Rui Jorge de uma expulsão. Continuar a ouvir falar de um pretenso golo na Luz contra o FC Porto que mereceu várias primeiras páginas ignorando-se da mesma forma o descaramento de Karadas a atirar-se para o chão e com isso conseguir um penalti que valeu três pontos, é continuar a andar para trás, enquanto alguém (o FC Porto) anda cada vez mais para a frente.

Se quisermos ser honestos, nenhuma equipa em Portugal conseguia resistir como resiste o FC Porto. Numa semana, os Dragões resistem à discriminação, resistem a um revés que atinge o seu presidente, resistem às lesões, resistem ao impacto psicológico de verem Mourinho entrar no Dragão com o seu poderoso Chelsea de peito aberto, resistem a quatro bolas na barra e um golo mal anulado e mesmo assim ganham, conseguem o apuramento para a fase seguinte da Liga dos Campeões e conquistam a Taça Intercontinental.

Os outros vão caminhando e dizendo "é preciso ter calma é só (mais) uma derrota". Provavelmente já vão vendo luz ao fundo do túnel. É que o único poder (de todos os poderes em Portugal) que está sediado no Porto é o futebol. Foram rostos desse poder, Pinto da Costa e Valentim Loureiro. Para bom entendedor?



Autor: JÚLIO MAGALHÃES