terça-feira, setembro 28, 2004

MORTOS VIVOS

JORGE MAIA no OJogo


Há algumas coisas que é preciso saber antes de se optar pela carreira de cangalheiro. Antes de mais nada, e por muito tentador que possa parecer, pura e simplesmente não se devem fazer funerais sem confirmar que o morto está mesmo morto. Um morto vivo resulta muito bem em filmes de série B, mas é uma chatice na vida real e a última coisa que qualquer cangalheiro quer é um cliente insatisfeito a bater à porta a altas horas da madrugada com reclamações contra a qualidade do serviço. Ora, há para aí alguns pretendentes a cangalheiro que passaram à frente as primeiras partes do manual e foram directamente para o capítulo que lhes interressava: enterros. Solícitos, desataram a escavar um grande buraco para enfiar o FC Porto lá dentro, mas esqueceram-se de confirmar se o morto estava mesmo morto.

Li algumas coisas brilhantes ao longo da última semana. Ao fim de três jornadas do campeonato, ao fim de três empates - mais um na Liga dos Campeões - havia quem dissesse que lá para quinta-feira, depois do jogo com o Chelsea, o FC Porto podia ter a época perdida. Isso mesmo! Não era comprometida ou complicada, era perdida e mais nada. Partia-se do princípio que os portistas empatariam - ou pior - com o Guimarães e tinha-se como dado aquirido uma derrota frente ao Chelsea e pronto, lá se tinha ido a época à vida ainda antes de Setembro ter chegado ao fim.

É verdade que faltam 30 jornadas para o final do campeonato, mas como poderia o FC Porto recuperar em apenas 30 jornadas?

E também é verdade que o mesmo FC Porto que conquistou a Liga dos Campeões em Gelsenkirchen começou a competição com um empate em Belgrado e uma derrota em casa frente ao Real Madrid por 3-1, mas quem quer saber disso?

E já agora, não será um exagero dizer que a época está perdida sem que pelo menos o FC Porto tenha sido eliminado da Taça de Portugal?

Afinal, na última temporada, a conquista da Taça de Portugal foi tão celebrada como, sei lá, a conquista da Liga dos Campeões.

E qual era o termo de comparação, que exemplo levava tanta gente a concluir que o FC Porto estava com um pé para a cova? O Benfica. O mesmo Benfica que perdeu a Supertaça Cândido de Oliveira e que falhou o apuramento para a Liga dos Campeões sem que isso comprometesse quaisquer dos objectivos traçados para a temporada.

Afinal, o FC Porto ganhou ao Guimarães e o Benfica empatou em casa com o Braga provando, mais uma vez, que os funerais só se devem fazer depois de confirmar que o morto está mesmo morto. O problema é que há para aí muita gente com buracos abertos, à espera de um deslize...