sexta-feira, novembro 23, 2007

Memória de dragão



Por Rui Moreira:

O meu amigo Olímpio Bento apelou aos portistas para serem hospitaleiros para com Scolari. Ora, o seleccionador foi sempre bem recebido nas Antas e no Dragão, apesar de não nos faltarem razões de queixa, porque foi ele quem assumiu a estratégia de confronto, certamente «bem aconselhado» a agradar a esse importante sector da opinião pública que vive consumido pelo revanchismo antiportista. Mais tarde, aproveitou o clima que criou, em que a exclusão de Baía e a ignóbil provocação com a convocatória do seu segundo suplente foram apenas alguns dos episódios mais óbvios, para se fingir de vítima de uma cabala, acusando os jornalistas que questionaram as suas opções de estarem ao serviço das obscuras forças do Norte. Ignoro se a estratégia foi concertada com Madail mas é óbvio que o ajudou a eximir-se às culpas do desastre na Coreia, que passou a ser visto como uma consequência dos diabólicos vícios dos jogadores portistas. Baía foi proscrito e a Selecção foi depurada, tendo Scolari ignorado os jogadores do fabuloso FC Porto de Mourinho até perder com a Grécia na abertura do Europeu. Foi depois desse deplorável jogo que Scolari se viu obrigado a ceder ao «povão», escalando essa equipa base que utilizaria até à final do torneio e, depois, no Mundial. Desde então, aliás, Scolari tem sido incapaz de montar uma nova equipa e foi por isso que, mesmo sem assobios, voltou a perder a cabeça, após o triste jogo com a Finlândia.

Ao contrário do que Olímpio Bento pensa, não há pois uma excessiva valorização do episódio Baía. Discordo, de resto, totalmente da sua análise desse caso, quando sugere que os motivos da sua exclusão não terão sido revelados por Scolari para proteger o bom-nome do jogador. Bem pelo contrário, esse caso desmente as tão propaladas qualidades de liderança de Scolari. Se estava a cumprir ordens superiores e não as podia ou queria revelar para defender o jogador, bastaria ter dito que esta era uma das suas muitas e incompreensíveis opções técnicas. Como não o fez, e aproveitou a situação para exibir o seu autoritarismo, Scolari fomentou por omissão estas intoleráveis conjecturas e boatos de que o professor faz eco e que ainda pesam sobre um atleta extraordinário e de carácter.

Pela minha parte, não esqueço e nunca aceitarei que Scolari possa ser treinador do FC Porto, hipótese que Olímpio Bento coloca e que já ouvi admitida por gente responsável do clube mas que nunca será consentida por sócios e adeptos. Nem sequer por aqueles que lhe reconhecem competência.