sexta-feira, novembro 30, 2007

BENFICA-FCPORTO: FORA DAS QUATRO LINHAS




FRANCISCO JOSÉ VIEGAS FESTEJA EXUBERANTEMENTE A CARREIRA DA EQUIPA DE JESUALDO

«Mesmo quando se comportam como um bando de repolhos»

Por ANTÓNIO BARROSO

ESCRITOR, gastrónomo, cronista, várias são as facetas do trasmontano Francisco José Viegas. De parabéns hoje, pelo 14.º aniversário da Casa Fernando Pessoa - que dirige - este filiado dos Dragões confessou a A BOLA já ter passado pela experiência de não ter com quem festejar o triunfo do seu clube numa Supertaça. Hoje é menos difícil ser-se do FC Porto na capital, reconhece quem não esquece a metamorfose porque passava o seu vice-reitor nos jogos do Desp. Chaves, perdendo toda o verniz que exibia de segunda a sexta-feira para desancar árbitros e adversários aos domingos. À Luz, gosta de ir ver jogar... «o Sporting».

Desde quando se lembra de ser portista? Porque se tornou adepto, tem ideia? Influência familiar, identificação pessoal?

— Desde que me perguntaram és do Benfica ou do Sporting?, há muito tempo. Por outro lado, o FC Porto era o clube da resistência aos clubes que ganhavam sempre. Eu vivia em Chaves, terra do Pavão, uma das glórias do clube, que morreu em 1973, durante um FC Porto-Setúbal, 13.ª jornada, ao 13.º minuto. A BOLA chegava a Chaves ao fim da noite de segunda-feira. Corri para ler a notícia, saber como foi. Nunca esquecerei a crónica de Carlos Pinhão. E também não esqueci as grandes datas de glória do FC Porto.

É sócio? Porque se filiou?

— Sou sócio, sim. Para mostrar o cartão aos amigos.

Como tem visto a carreira da equipa esta época?

— Com alguma tranquilidade e alguns sustos, o coração ao pé da boca, insultando a equipa toda quando é preciso... e festejando-a na maior parte das vezes, mesmo quando ela não merece e se comporta como um bando de repolhos. E com alguma indignação de vez em quando. O empate com o Estrela da Amadora foi o aviso mais importante. Mas acho que é uma equipa organizada, praticamente consolidada, com maturidade. Talvez precise de mais combatividade.

Vai ao Estádio da Luz ver o jogo, estará a trabalhar ou já reservou o «sofá» e um lauto repasto a condizer, com família e/ou amigos? Ou prefere não ver, de todo?

— Preferia não ver Mas vou, pela televisão. À Luz prefiro ir ver jogos do Sporting: é rigorosamente verdade.

A taça que nunca saiu de Chaves

Qual foi a coisa que mais o impressionou até hoje nos estádios portugueses, que tenha testemunhado ou visto pela televisão? Lembra-se de alguma cena caricata ou lamentável?

— O futebol é sempre caricato, todas as semanas. Mas a coisa mais divertida da minha vida de estádio acontecia, também todas as semanas, no estádio do Grupo Desportivo de Chaves: um dos nossos professores, vice-reitor do Liceu, pessoa muito séria, educada e conservadora, transfigurava-se completamente durante os jogos. Gritava, levantava o guarda-chuva, pedia invasão de campo, exigia agressões aos adversários. Depois, no dia seguinte, segunda-feira, voltava ao normal. Aliás, lembro-me de um torneio que uma equipa, e o pudor impede-me de nomeá-la, ganhou ao Desp. Chaves, mas em Chaves. Cometeram um erro fatal: dar a volta ao campo exibindo o troféu. Quando se aproximaram demasiado da velha zona do peão, roubaram-lhes a taça. Acho que não a levaram mesmo.

Como é ser-se portista na capital?

— Hoje é razoável ser-se portista em Lisboa. Mas já foi difícil. Lembro-me dos tempos de faculdade, depois de termos ganho uma Supertaça: no dia seguinte, de manhã, éramos apenas dois em toda a faculdade. Não tínhamos com quem festejar. Em caso de derrota, os meus amigos fazem o favor de me felicitar com galhardia.


JOGUE «HARRY POTTER»

«Nem que seja para irritar»

— «Ferido» pela goleada de Liverpool, o FC Porto será mais perigoso? Ou vai «pagar a factura» da eliminação do Benfica da Champions, como diria Mourinho?

O Benfica foi eliminado? Lendo bem A BOLA, não parece. Sinceramente, sem ironia: acho que o Benfica tem uma equipa com grandes momentos, que sabe jogar futebol rápido em grandes jogos e que, por vezes, impõe respeito pela garra. O jogo com o Milan é a prova. Não gostava de ter dito isto, mas pronto, estava distraído. Que não volte a repetir-se. De resto, a Liga e a Champions não têm nada a ver uma coisa com a outra.

— Olhando para a equipa do FC Porto, o que o descansa e/ou quem lhe dá confiança para crer na vitória?

A equipa principal dá-me confiança. Lisandro, Lucho, Assunção, Meireles, Bruno Alves, todos. Quaresma deve entrar nem que seja para irritar as bancadas. É um artista que deve ser sempre aproveitado.


DAVA «UM PUXÃO DE ORELHAS A HELTON»

«Pavão e Cubillas foram os meus ídolos»

— Acha que se dá demasiada importância, enquanto fenómeno social, a jogos destes? Confia que não haverá incidentes a registar?

Dá-se demasiada importância, sim. Não suporto as transmissões de tv com horas de antecedência, cheias de reportagens sem interesse algum. O jogo são 90 minutos, e isso seria quase suficiente. Quanto a incidentes, espero que não haja. Se houver, que os responsáveis sejam identificados logo e impedidos de ir aos estádios.

— Qual o jogador do FC Porto que tem saudades de ver jogar e/ou, se fosse Jesualdo, colocaria em campo?

Madjer. Gostava muito dele. Tal como de Fernando Gomes. O meu ídolo, na altura, além do Pavão, também foi o Cubillas. Gostava muito da equipa que ganhou a Taça dos Campeões em Viena [n.d.r. — 1987, 2-1 ao Bayern Munique] e da que José Mourinho usou no segundo ano em que foi campeão. E Seninho. Oliveira, esse mesmo. Gostaria de ter visto jogar Hernâni, Jaburu e Barrigana. Jesualdo tem muitas escolhas.

— Um desafio de treinador de bancada: substitua-se a Jesualdo Ferreira. Que onze apresentaria?

Helton... com um puxão de orelhas, Bosingwa, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Marek Cech, Meireles, Paulo Assunção, Lucho, Lisandro, Quaresma. Não tem nada que saber. Não sei onde encaixava o Kazmierczak, mas acho que entrava.






JÚLIO MACHADO VAZ SÓ NÃO CANTA O HINO DOS DRAGÕES «PARA EVITAR QUE O PLANTEL RESCINDA»

«Terei álibi para o pecado da gula!»

Por ANTÓNIO BARROSO

Àboa maneira portuguesa: sentado à volta de uma mesa farta, com a «tribo» de família e amigos reunida, a ver o clássico pela televisão. Desta invejável forma irá acompanhar o seu Benfica no clássico que se jogará no ninho da águia. Um sexólogo prevenido vale por dois: reservou, como confidenciou a A BOLA, munições para festejos... que também servem para afogar eventuais mágoas, pois claro. Quanto à táctica, não há segredos, se pudesse mandava lá para dentro Eusébio e José Águas... e estava ganho.

Desde quando se lembra de ser benfiquista? Porque se tornou adepto, tem ideia?

— Até onde a memória alcança. Todos os meus primos o eram, bem como Mãe e Avó lisboetas. Meu Pai, que era portista e jogara nos juniores dos dragões - mercê de um promissor pé esquerdo! -, nunca se arriscou a contestar o matriarcado reinante.

É sócio? Porque se filiou?

— Claro! Também escrevo para a revista que vai sair em Dezembro e ajudo no que puder, só não canto o hino para evitar que o plantel rescinda com justa causa. O Benfica é de todos; e todos não seremos de mais, se quisermos que o maior clube do mundo seja também um dos melhores.

Como tem visto a carreira da equipa esta temporada?

— Não escondo que considerei um erro a permanência da equipa técnica anterior. Com Camacho os níveis de empenhamento individual e colectivo subiram claramente e algumas das exibições satisfizeram-me, pese embora a dificuldade em concretizar. Outras não, mas espero que essa inconstância diminua.

Vai ao Estádio da Luz ver o jogo, estará a trabalhar ou já reservou o «sofá» e um lauto repasto a condizer, com a família e amigos?

— Vou ver no sossego de Cantelães. Com a tribo reunida à volta de mesa farta, que permita depois festejar ou carpir as mágoas. Assim, de um modo ou de outro, terei alibi para o pecado da gula!

Como é ser-se benfiquista na cidade Invicta? Em caso de resultado negativo, os seus amigos dragões entopem-lhe o correio electrónico com mensagens ou o telemóvel de sms com piadas brejeiras?

— Nunca tive problemas, talvez por toda a gente me reconhecer o fervor tripeiro e perdoar a traição. Mas das piadas ninguém me livra, claro. É justo: durante muitos anos aturaram eles as minhas!

Qual o jogador do Benfica que tem saudades de ver jogar e/ou, se fosse Camacho, colocaria em campo?

— Eusébio, claro, mas também chamava um figo a José Águas naquela área!

Um desafio de treinador de bancada: Se fosse Camacho, que onze apresentaria?

— Quim; Nelson, Luisão, David Luiz e Léo; Petit e Katsouranis; Maxi Pereira, Rui Costa e Rodriguez; Nuno Gomes. Com o decorrer do jogo logo se veria...

«Esperançazinha de ficar a um ponto»

Acha que o FC Porto «ferido» pela goleada sofrida em Liverpool torna tudo mais perigoso? Que prognóstico para amanhã?

— Cheira-me a empate. O Porto está muito mais consolidado como equipa e quatro pontos de avanço dão uma certa paz de espírito, mas mentiria se dissesse que não tenho uma esperançazinha de ficar a um ponto, esfregar as mãos e dizer à tribo:Temos campeonato, carago!

Olhando para a equipa do Benfica, o que é que o descansa e/ou quem lhe dá confiança para acreditar na vitória?

— A fibra. Escrevi-o no blog a propósito do jogo com o Milan e repito: quando suam daquela forma a camisola, têm sempre o meu obrigado à espera no fim dos 90 minutos.


não aos VÂNDALOS

— Qual foi a coisa que mais o impressionou ver até hoje nos estádios portugueses? Presenciou alguma cena lamentável ou caricata? Qual?

Recordar a morte de um adepto no Estádio Nacional ainda hoje me deixa consternado. É preciso expurgar o futebol de vândalos, sob pena de as bancadas ficarem vazias e a consciência de uma sociedade muito cheia de culpa...


especialista acredita que quem vencer puxa pelo parceiro...

«Diferentes opções clubísticas não costumam envenenar as relações eróticas»

— Acha que se dá demasiada importância, enquanto fenómeno social, a jogos destes? Confia que, desta vez, não haja incidentes a registar? Como sexólogo, com certeza já teve queixas de o futebol ser uma barreira na vida a dois, não? Era só antigamente ou ainda se verificam?

Acho que o futebol assume demasiada importância na vida de muita gente, torna-se escape de quotidianos cinzentos e frustrações que nada têm a ver com ele. Mas que fazer contra a paixão? Aos 58 continuo a ter insónias quando aqueles mafarricos perdem! Quanto a Sábado, tenho esperança que tudo corra bem no relvado e nas bancadas. Curiosamente, as diferentes opções clubísticas não costumam envenenar as relações eróticas. Talvez quem ganhe esteja feliz e disponível para embalar a tristeza do outro. Mas ainda me lembro dos meus tempos de clínico geral e de mulheres batidas porque a vitória não sorrira ao clube do marido.


Na Abola