sábado, julho 15, 2006

Sua Eminência deu garantias?

José Manuel Ribeiro no Ojogo:


Numa entrevista que deu em tempos à "Pública", penso eu, o filósofo americano Daniel Dennet pôs a flutuar uma pergunta retórica a respeito dos pastores evangelistas e das igrejas, como a IURD, a que temos o costume de chamar escroques:

- O que poderiam as pessoas comprar com aqueles vinte dólares que lhes desse mais felicidade?

Era capaz de me lembrar de um artigo ou dois, se me esforçasse, mas percebo a ideia. Scolari, por exemplo. O que poderia a FPF comprar por dois, três ou quatro milhões de euros que desse aos portugueses mais felicidade?

Desde que o tema do seleccionador se tornou espiritual, ao cabo de uma tão rápida quanto profunda - lá está - campanha de evangelização, não há como discutir o prolongamento do episcopado.

O que se deve debater daqui por diante são as questões práticas. Em que dia do mês devemos pagar o dízimo?

De que lado das entradas nos estádios vão ficar as pias de água benta?

Nós, os que pronunciámos o nome do seleccionador em vão, como haveremos de expiar os nossos pecados?

A seguir, quando essas matérias importantes estiveram resolvidas, se houver tempo, talvez o presidente da FPF possa debruçar-se sobre outros assuntos de menor importância que, apesar do entusiasmo unânime com o novo contrato, deviam ser levados em conta.

Não obstante sabermos que Scolari tem o Espírito Santo pelo seu lado e, por consequência, a razão, o conflito entre ele e o FC Porto existe e faz vítimas. Por isso, quando o sr. Gilberto Madail dispuser de uns minutos e já que não teve possibilidade de tomar providências na altura adequada - antes de renovar com o seleccionador -, será bom que dê aos futebolistas e adeptos do campeão nacional a garantia pública de que serão tratados com a dignidade que não lhes foi permitida no anterior consulado de Sua Eminência.

Por muitas, faustosas e fundamentadas que sejam as opiniões, o Diabo não é azul e branco para todos os cidadãos que Sua Estultícia tem agora mais dois, três ou quatro milhões de motivos para respeitar. Religiosamente.