terça-feira, maio 03, 2005

Pinto da Costa à DRAGÕES

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Pinto da Costa abriu o livro


"Olhando para trás, o que sonhei há 23 anos foi tudo realizado e ultrapassado. O FC Porto está unido e quando quer, consegue fazer mais do que nós mesmos, responsáveis, pensamos ser possível".

As palavras são de Pinto da Costa. O presidente portista ocupa quase metade da edição de Abril da revista "Dragões" com uma entrevista em que aborda a actualidade da equipa, os erros das arbitragens, as mudanças de treinador e a aposta em jogadores que não renderam o esperado. Sem entrar em grandes pormenores, acabou por revelar que foi a falta de rigor e disciplina que o levou a dispensar Vítor Fernandez e explicou as saídas de Pedro Mendes, Paulo Assunção e Rossato com as opções do seu antecessor, Luigi Del Neri. Em discurso directo, aqui ficam as principais ideias do homem que dirige o FC Porto há 23 anos.


Os pontos perdidos em casa

"Até hoje o FC Porto perdeu 22 pontos em casa, quando nem costuma perder pontos. Bastava que só tivesse perdido metade, o que ainda assim seria anormal, e já seria campeão. Fora até fizemos um bom campeonato (...) Qualquer um dos três grandes que tivesse feito uma época normal já era campeão disparado. Todos fizeram épocas anormais (...) Acredito na conquista do campeonato quando dependemos só de nós. Quando estamos a quatro pontos e se nos lembrarmos do último Benfica-União de Leiria, temos que concluir que é quase impossível".


Perseguição ao FC Porto?

"A realidade é que na nossa última derrota no Bessa, com o resultado em 0-0 há penálti indiscutível, de uma entrada à Toñito sobre o Diego. É um penálti que não é marcado (...) Houve jogos - não vou estar a dizer que propositadamente - que foram nitidamente influenciados por decisões da equipa da arbitragem. Se for somar e subtrair esses pontos, tudo seria diferente. Por exemplo, no FC Porto-Nacional estávamos a perder por 0-1 e há na mesma jogada, como os jornais assinalaram, dois penáltis".


A saída de Fernandez

"O que me preocupou foi quando perdemos em casa com o Braga. Aí foi a gota de água, por sentir que não houve reacção perante o resultado, não houve medidas dentro do próprio jogo para alterar as coisas. Quando as pessoas que estão habituadas a ganhar, a ver jogar bem, têm reacções intempestivas e insultam seja quem for, desde o presidente ao treinador, não direi que seja normal, porque é uma questão de educação, mas não me preocupa e compreendo (...) Lembro-me que o treinador me disse, no final do jogo 'calma presidente, que isto há-de melhorar'. Não há-de melhorar. Tem que melhorar e tem que saber porque é que isso aconteceu".


Ainda Fernandez

"Tivemos um jogador - que já não está cá - que numa semana de seis treinos, em cinco chegou atrasado. E não lhe aconteceu nada porque o treinador achava que não. Que exemplo é este para os jovens? (...) Sem rigor, sem disciplina, sem querer ganhar, nada se faz".


Os três treinadores

"O nosso normal é ter um treinador para três anos. Este ano foi ao contrário (...) O Del Neri foi uma caso de inadaptação ao nosso futebol com uma opção por um futebol super-defensivo e directo. Isso viu-se logo e os jogadores sentiram, pelo que entendemos tomar medidas drásticas (...) Fomos buscar o Victor Fernandez que é um homem com bons conhecimentos e conceitos correctíssimos sobre o futebol mas que na prática falhava no aspecto de rigor e de disciplina (...) A falta de rigor nos horários, o chegar sistematicamente atrasados aos treinos e nada se passava. O chegar atrasados às refeições. Digamos, aquele rigor 'à Porto', que nós sentíamos, e que com o Couceiro regressou, foi-se degradando e já era quase tudo à balda".


Mudanças na equipa

"Para ser franco, até fiquei admirado como foi possível resistir depois da vitória na Taça UEFA, e aguentar mais um ano jogadores como o Deco e o Ricardo Carvalho (...) Depois de perdermos o treinador e dois jogadores de 'top' mundial, eu tanto podia pensar que seria impossível ganhar o campeonato do Mundo, como, numa visão optimista, ter a expectativa de poder fazer melhor (...) Quando se tem uma equipa como nós tínhamos, e se fazem sete ou oito contratações, ninguém vai pensar que os oito jogadores vão entrar na equipa e os outros vão sair. Quando se fazem contratações, também é para dar garantias ao plantel de que em várias circunstâncias tem uma retaguarda que lhe permite fazer alterações sem baixar o nível (...) A este FC Porto, fosse com que treinador fosse, bastava lá meter-lhe o Deco e o Ricardo Carvalho e não tenho a mínima dúvida que tudo seria diferente".


Pedro Mendes por Hélder Postiga

"O Pedro Mendes foi um jogador que me custou muito ver sair, mas foi, no entanto, uma condição para haver Hélder Postiga. O Tottenham estava disposto a ceder, mas o valor que o FC Porto tinha recebido pelo Postiga tinha que ser restituído, parte em dinheiro, e parte com o valor atribuído ao Pedro Mendes (...) O treinador (Del Neri) entendeu que era mais importante para o grupo contratar um ponta de lança, do que ter o Pedro Mendes".


Craques ou pseudo-craques?

"Sabemos que houve jogadores que, por motivos de adaptação, por razões até de ordem familiar e articular viram o seu rendimento influenciado negativamente... Nós não contratámos pseudo-craques. Contratámos craques. O Diego é um craque, o Fabiano é um grande craque, o Quaresma é um craque, o Bonfim, que já veio a meio da época, é um craque. O Ibson, que não vinha como craque, está a revelar-se um jogador de equipa fantástico. Só que não há ninguém que possa garantir determinadas coisas".


Fabuloso ou não?

"Não tenho a mínima dúvida que o Fabiano, se continuar no FC Porto, se tiver oportunidade de jogar e aparecer, vai mostrar que é um grande jogador. Infelizmente para nós não esteve ao seu nível. Se estivesse, hoje estávamos destacadíssimos. É óbvio que o Fabiano não correspondeu às expectativas, já nem digo minhas, mas de toda a gente, a começar por ele próprio. Chamam-lhe 'Fabuloso' porque, na área, é um jogador fabuloso".


Leandro inegociável

"Leandro. Está na equipa, está no plantel do José Couceiro. E basta isso para ser inegociável. O Flamengo quer tê-lo por empréstimo durante um ano. Dissemos que não. Não está para emprestar, nem para vender, porque o treinador considera que ele deve fazer parte do plantel".


Paulo Assunção regressa

"Houve jogadores que foram contratados, porque os conhecíamos e nos quais acreditamos, como o Paulo Assunção, que entendíamos ser um valor seguro (...) O treinador Del Neri, viu os jogadores, disse-nos o esquema em que queria jogar e deu-nos a indicação, felizmente por escrito, do plantel que queria (...) Esse jogador vai voltar ao nosso plantel. Ainda bem que o contratamos. até porque eu entendia que ele podia ter sido útil".


O Braga e Jesualdo Ferreira

"O Braga fez o seu campeonato. com um bocadinho de sorte ali, com isto ou aquilo acolá. Vai à sua velocidade, como o Boavista (...) O Jesualdo Ferreira não é homem para dar entrevistas, não é homem para aparecer nos telejornais, mas é um conhecedor profundíssimo do futebol (...) Não digo que o treinador número um de Portugal. Digo que é o treinador número um da Liga este ano".


Novo livro

"Se o fizer, já tem título 'Largas coisas aconteceram este ano'. Será lançado ao fazer um ano da saída do primeiro. Dependerá de eu poder escrever aquilo que penso, aquilo que sei. Depende de poder escrever sobre as largas coisas que se passaram este ano".


A cidade

"No Porto, tudo o que era do Porto capitulou (...) Restam, neste momento, três entidades que se mantêm fiéis e como símbolos do Porto, cada um à sua escala: o FC Porto, o Boavista e a Associação Comercial do Porto. Fora disso, tudo está, desde o mais alto nível ao menor, limitado a repartições dos organismos estatais com sede em Lisboa"