sexta-feira, outubro 22, 2004

A defesa

José Manuel Ribeiro Aqui


O treinador do Paris Saint-Germain tem razão: o aspecto comum aos bons e
maus jogos do FC Porto esta época é a falta de rigor defensivo. O mais
fácil é responsabilizar a defesa, não só porque não há como discutir a
ingenuidade de Pepe mas também porque a idade de Jorge Costa o torna
alvo fácil, mesmo quando, como agora, está numa forma razoável. Faltam
ainda Ricardo Carvalho, que tinha muito a ver com o "rigor" da época
passada, e Nuno Valente. São dados suficientes para uma condenação
preguiçosa. Para além de todos os argumentos que tanto a condenam como a
desculpam, se formos justos, a defesa do FC Porto esconde atrás das
costas largas uma equipa traidora. A vocação dela - e também de Victor
Fernandez, de acordo com as generalizações feitas pelos especialistas
espanhóis - é o ataque, muito para além do que alguma vez se viu nos
tempos de Mourinho. O último mês provou que é possível ganhar jogos
assim - e perdê-los também. Falta rigor defensivo, mas é do meio-campo
para a frente que ele mais se nota. Misturam-se neste FC Porto hábitos
difíceis de subverter, tempo de trabalho insuficiente e muita
inexperiência, que tornam os resultados demasiado dependentes da
inspiração. Pode maravilhar nos dias de Primavera e horrorizar nas
noites de Inverno. A principal lição de José Mourinho é que o futebol
pode ser cem por cento mecânico: uma simples consequência do
posicionamento dos jogadores, de jogadas-tipo, livres e cantos
trabalhados exaustivamente, por isso é natural que se note a diferença.
O futebol da inspiração é o futebol do acaso, a menos que a inspiração
seja um extra, uma mais valia a somar ao futebol mecânico, que funciona
como rendimento mínimo para aqueles jogos em que os dribles não saiam
aos Diegos e Quaresmas. Não se trata de seguir o modelo do treinador
anterior: é a simples análise do rumo que o futebol actual leva.
Recusá-lo conduz à derrota. E nem a melhor defesa do Mundo a poderá
evitar.


DIAGNÓSTICO
Novos são os trapos

O PSG-FC Porto deixou antever a verdadeira dimensão do problema que é a
juventude da equipa de Fernandez. Por partes: a falta de paciência nuns
momentos, a paciência exagerada noutros, o individualismo tonto que
pretendeu responder à adversidade e, acima de tudo, aquela calma
surpreendente que se seguiu aos bons dez minutos iniciais, como se os
jogadores tivessem confirmado a fraca ideia que tinham do adversário e
se tivessem convencido de que, para vencer aqueles fulanos, não era
preciso matar os cavalos. Inexperiência grave.


DIAGNÓSTICOS
As culpas de Pepe

Começa a levar com as culpas que tem, mas também com as que não tem.
Alguém esperava que Pepe fosse, aos 21 anos, um jogador à altura de
Ricardo Carvalho? Que, por acaso, só aos 24 anos conseguiu tornar-se
titular indiscutível do FC Porto? O modelo de comparação não podia estar
mais errado.