quarta-feira, julho 21, 2004

Melhores

JORGE MAIA no http://www.ojogo.pt


Às vezes, há coisas que são tão evidentes, mas tão evidentes que mesmo o pior cego acaba por ter que abrir os olhos para as encarar de frente. Aconteceu com Luiz Felipe Scolari durante o Euro'2004 logo depois de Portugal ter perdido pela primeira vez com a Grécia. Depois de dois anos a ficar careca de tanto enfiar a cabeça na areia só para não ver o que era evidente, lá acabou por abrir os olhos e deixar os melhores jogadores que tinha convocado para a Selecção fazerem o seu trabalho. Se tivesse aberto os olhos um bocadinho mais cedo, sabe-se lá o que poderia ter acontecido. Mas vá lá que os abriu. Ainda meio estremunhado por ter visto a luz, mas lá os abriu. Contam-me que pode ser uma experiência dolorosa, ver a luz assim, depois de tanto tempo no escuro.

Há quem acredite que o FC Porto venceu a Taça UEFA, dois campeonatos, uma Taça de Portugal e, especialmente a Liga dos Campeões (eu sei, estas listas estão a tornar-se cada vez mais longas e irritantes) mais ou menos por acaso, ou como diria alguém, por sorte. É uma maneira de sacudir a água do capote, mas apenas para molhar os pés. Dizer que a diferença entre vencedores e vencidos é ditada pela sorte desresponsabiliza e desculpa a incompetência. Por um lado, convence quem se quer deixar convencer que, no fundo, as equipas são todas iguais, mas há uma com mais sorte que as outras. Por outro, torna o treinador irrelevante, os jogadores inconsequentes e o trabalho uma pura perda de tempo. E essa é a grande asneira que separa uns dos outros, vencedores e vencidos. Uma asneira recorrente no discurso de algumas pessoas que querem reduzir o sucesso do FC Porto nos últimos anos a um acidente cósmico que podia acontecer a qualquer um. Mas não foi.

O FC Porto ganhou tudo nos últimos dois anos porque trabalhou melhor que os outros, porque tinha um treinador mais competente e uma organização mais capaz mas, acima de tudo, porque tinha os melhores jogadores. Vítor Baía, Ricardo Carvalho e Deco não são os melhores da Europa por terem vencido a Liga dos Campeões, venceram a Liga dos Campeões porque são os melhores da Europa. É uma diferença subtil que não tem nada a ver com sorte e que cava o fosso entre os que ganham e os que só choramingam.