terça-feira, junho 08, 2004

Sporting: Um clube diferente, não há dúvida!!!

José Peseiro foi apresentado ontem como treinador do Sporting, mas está em estado de choque. No espaço de poucos dias, deixou de orientar uma equipa cheia de estrelas pra ir treinar uma equipa cuja especialidade é ficar a ver estrelas!!!


O texto seguinte é do Carlos Machado no ojogo:

A testemunha

Quando já todos pensariam que a época, entretanto promovida a passada, estava homologada e passada para o arquivado, eis que no fim-de-semana Dias da Cunha volta ao ataque e proclama aos quatro ventos que "o Sporting só não ganhou a SuperLiga porque o sistema esteve a funcionar desde a primeira jornada". O discurso é coerente, tanto mais que o seu autor explicou que só impôs a si próprio alguma contenção na denúncia do dito sistema quando teve garantias de que o caso estava entregue à polícia (Apito Dourado). Ou seja, aceitando a tese do presidente do Sporting como verdadeira, partindo do princípio que a verdade foi falseada e que em Alvalade há um grupo de trabalho espoliado de títulos e prémios de jogo que deveriam ter recebido, por que carga de água foi, então, despedido o treinador?

O discurso de Fernando Santos foi sempre o de um homem de boa fé que foi acreditando no que lhe diziam e nas declarações públicas de alguns dirigentes, entre os quais o presidente do clube e da SAD; partiu para os Estados Unidos com a ilusão de continuar e quando chegou pertencia ao passado do Sporting. Mais do que isso, no comunicado da SAD em que confirma o afastamento do técnico há um ponto - o 5 - em que fica afirmado que Fernando Santos só não foi alvo de um processo disciplinar para despedimento com justa causa porque, embora houvesse o convencimento de que à SAD assistiriam razões para tal, o sistema (ou método) a usar para levá-lo por diante seria demasiado moroso, o que inviabilizaria a contratação imediata do substituto. Portanto, a administração da SAD do Sporting entende que a equipa não foi campeã porque tinha um treinador incompetente, que até poderia ter despedido com justa causa se disso se tivesse lembrado em tempo oportuno.

Há coisas difíceis de perceber. Fernando Santos não foi feliz no Sporting, a equipa falhou todos os objectivos a que se propôs e, por certo, poder-lhe-ão ser assacadas algumas culpas. Admite-se mesmo como hipótese válida a ideia de que não teria grande ambiente entre os sócios para continuar o seu trabalhar em paz, que estava perante um cenário desfavorável cujo desfecho dificilmente seria outro que não o afastamento, mas então porquê andar a pregar a diferença, a transparência, um modo diferente de estar, e depois agir nas costas do treinador, preparar a substituição e a seguir meter-lhe a faca ao peito? Mais ainda, acusando-o de, para complicar a rescisão, ter feito uma contraposta que não era mais do que o "aproveitamento inadmissível da premência da definição e de designação de um novo técnico que o substitua no comando da equipa principal, o que não pode ser aceite por esta Sociedade" (ponto 3 do comunicado).

A mudança de comando técnico foi oficializada na terça-feira, dia 1, no sábado, dia 6, Dias da Cunha afirmou que havia sido o sistema a derrotar o Sporting. Será que Fernando Santos vai arrolar o seu ex-presidente como testemunha de defesa quando tiver de dirimir a rescisão no tribunal?

José Peseiro, que ontem foi apresentado e, tal como Fernando Santos, foi recebido como se estiver a passar a porta do céu, já pode começar a fazer uma ideia de que lhe acontecerá se não ganhar no primeiro dos seus dois anos de contrato.