segunda-feira, junho 14, 2004

O patriota Figo e a parábola de Deco

Em troca dos heróis escorbúticos que acharam o Brasil, recebemos, cinco
séculos depois, um rapaz vitaminado, um português tropical. Que afronta!
Deco é parábola contemporânea da mesquinhez nacional. O patriotismo postiço e parolo de Figo, de Rui Costa e de alguns craques do audiovisual, sobretudo destes, só prefigura a onda patrioteira da grandeza colonial perdida.

Como é uso no fanfarronismo nacional, gabamo-nos de ter arredondado a Terra e de termos um patrício em cada canto do Mundo. Tal como a defunta Filipa de Lencastre a parir portugueses de fora, gabamo-nos, por exemplo, do "português" Pires, campeão francês. Os gauleses é que não desdenham a Robert os glóbulos minhotos de Ponte de Lima! E todos os franceses, à execepção de Le Pen (!...), adoptam, orgulhosamente, os italianos Platini e Genghini, os caribenhos Trésor, Tigana e Thuram, os magrebinos Trezeguet e Zidane, os espanhóis Amoros e Fernandez...

Mas, afinal, Deco não é português de plenos direitos e deveres? E,afinal,
que mal há em adoptar um brasileiro? Quantos milhões de portugueses a quem Portugal não soube dar pão tiveram de procurar sustento lá fora? E alguma vez os brasileiros referendaram a naturalização de Carmen Miranda, uma estrela do Marco? E alguma vez fizeram o mesmo com o transmontano Roberto Leal? E não foi um "portuga", um tal D. Pedro, quem se naturalizou brasileiro sem dar cavaco ao serviço de estrangeiros e fronteiras dos indígenas, e logo para ser imperador?

Finalmente, pergunta-se: será que a Deco não lhe corre sangue português nas veias, herdado de um qualquer colono transmontano ou de um qualquer jesuíta menos pio? Será que não tem primos afastados em Alfama, na Madragoa ou na Ribeira? Faça-se-lhe um teste à genuinidade do plasma! Às tantas, ainda é parente afastado de qualquer colega da Selecção...

no JN