terça-feira, fevereiro 03, 2004

ISENÇÃO

JOSÉ MANUEL RIBEIRO no Ojogo.pt

Não sei se o FC Porto tem razão. Sei que houve uma celebração barulhenta do empate de sábado e duas luminosas edições de três ou quatro jornais lisboetas, tendo no centro a arbitragem de Lucílio Baptista e o alegado mau comportamento de Mourinho. Como já escrevi uma série de vezes, entendo a discussão recorrente das decisões dos árbitros como desculpa para a falta de capacidade, sempre um sinal de fraqueza, quer se tenha ou não razão, ou então uma tentativa muito mais calculista de gerar em redor do árbitro um ambiente futuro adequado. Por exemplo, na grande penalidade de que resultou o golo do empate, Lucílio Baptista sabia que marcar a falta era estar de acordo com a verdade do dia seguinte (se o fez por esses motivos é outra questão): a verdade pertence a quem fala mais alto e quem fala mais alto é quem vende mais jornais ou discursa para maiores audiências. Só alguém absolutamente desonesto, ou burro, pode defender que é o FC Porto quem fala mais alto na Comunicação Social portuguesa, por muito fácil que seja arrumar esta verdade no caixote do provincianismo. Lucílio Baptista mereceu excelentes notas n'A Bola e no Record. No entanto, dos seis lances julgados no Tribunal d'O JOGO, três tiveram decisão favorável ao FC Porto por maioria e outros dois por unanimidade, incluindo o penálti decisivo, que nos é apresentado pelos dois jornais como indiscutível, no Record com imagens "definitivamente esclarecedoras" e tudo. Se o nosso tribunal não tivesse sido usado, em várias ocasiões, como referência tanto por esses jornais como pelo próprio Sporting, o peso da discrepância seria relativo (como muita gente diz que sabe, O JOGO manipula a informação e escolhe os ex-árbitros a dedo). Dado que vem acontecendo justamente o contrário, fica a pergunta: de onde vêm essas certezas absolutas? Da falta de isenção com que passam a vida a insultar-nos?