quinta-feira, janeiro 29, 2004

José Manuel Ribeiro no Ojogo

O pacto
JOSÉ MANUEL RIBEIRO

A tese de que FC Porto e Sporting agem a coberto de um pacto ganhou anteontem sérios fundamentos. Só a necessidade de simular um ataque ao parceiro de conspiração explica as palavras de Dias da Cunha transcritas pelo site do seu clube, ou melhor, os erros que constam dessas palavras e que são vários. O primeiro deles é o motivo pela qual o presidente do Sporting acusa Pinto da Costa de incentivar uma guerra, como se fossem inquestionáveis as razões leoninas neste processo: nenhum argumento fornecido até ao momento pelo Sporting afastou (nem de perto nem de longe) a hipótese de ter havido má fé na atribuição de bilhetes aos adeptos do seu adversário. Nas contas do Sporting, camarotes, patrocinadores e "business seats" preenchem qualquer coisa como oito mil lugares; para além dessa gigantesca mancha VIP, superior à que esteve em Sevilha na final da Taça UEFA, houve dez mil bilhetes destinados ao público, trinta por cento dos quais teriam de ser, segundo o regulamento, disponibilizados ao FC Porto - e não foram. O próprio Dias da Cunha admite a irregularidade. Então, porquê negar ao FC Porto o direito à indignação? Por que razão acha Dias da Cunha que recusar aos portistas o direito de assistir a um dos jogos mais importantes da época tem de ser recebido com espírito desportivo? Não se percebe o carácter gratuito das acusações, até porque Pinto da Costa já teve declarações bastante mais duras. Se este espectáculo não for coisa de amigos a fingir que se dão mal, tem de se procurar uma explicação mais científica para as últimas intervenções do presidente do Sporting, que incluem as críticas ao árbitro depois do jogo com o Leiria, esquecendo o golo mal anulado a Maciel, e a insinuação de que o FC Porto fez uma extravagância financeira, incomportável no "quadro financeiro do futebol português", quando contratou Sérgio Conceição a custo zero e salário reduzido. De que raio anda o presidente do Sporting a falar?

Numerus clausus I:
Azul não entra

Os adeptos do FC Porto queriam acrescentar mais azul à multiplicidade de cores estampadas no Alvalade XXI, mas a escassez de bilhetes disponibilizados pelo Sporting tornou a hipótese impraticável. Os pouco mais de mil e setecentos que garantiram ingresso asseguram o apoio mínimo indispensável, apesar de esta ser a segunda menor claque portista da época. Menos, só mesmo na Madeira, no Marítimo-FC Porto. Há quem garanta semelhanças nos dois casos: água pelo meio.

Numerus clausus II:
Golo não entra

A estatística tem essa coisa maravilhosa de permitir que quase tudo entre na sua definição. Aliás, o que não entra também conta. Veja-se o caso do FC Porto: não sofre golos desde Alverca e isso acabou por tornar-se num dado estatístico com múltiplas leituras. O comportamento da defesa ou a agilidade de Vítor Baía, pro exemplo. Há 424 minutos que o guarda-redes não sofre um golo.